quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Solução Complicada

Em 1988, se não me falha a memória, o Sr. Afif Domingues, da cúpula empresarial de São Paulo, fez uma conferência sobre a região nordestina, afirmando que os problemas decorrentes da seca poderiam ser resolvidos com a abertura de poços artesianos.
Parecia uma solução simplista, visto que a construção de açudes sempre se apresentou como a fórmula mágica para transformar as terras áridas do nordeste em áreas agricultáveis. Muita gente achou ridícula a idéia de poços artesianos numa região seca, de terra rachada. Por que, se os açudes resolveriam o problema?
Ocorre que a construção de açudes, muito onerosa, até hoje não resolveu o problema da seca que está aí diante dos olhos de todos, como um castigo sem fim.
O problema do nordeste tem sido crônico. Faz algum tempo, ouvi na CBN um geólogo dizendo que a solução não surgia por falta de vontade política. Bastava abrir poços artesianos, afirmou. Os lençóis freáticos de muitos lugares do nordeste dariam para irrigar toda a região.
Declarou, por outro lado, que há falsa noção de que a densidade pluviométrica da região é muito baixa. Tomou como exemplo a Espanha, onde o índice é menor do que o do nordeste, e nem por isso aquele país deixa ter uma forte agricultura, exportando para diversas partes do mundo, inclusive para o Brasil. Milagre? Não. Simplesmente a eficiente irrigação das terras estorricadas, com a água proveniente de poços artesianos.
Há algum tempo, num programa da Globo News, assisti uma reportagem com um francês que optou por desenvolver suas habilidades de pesquisador num país do terceiro mundo, para não prestar o serviço militar em seu país. E escolheu justamente o nordeste brasileiro, onde desenvolveu um trabalho maravilhoso de abertura de poços tubulares, em locais predeterminados, no município de Quixeramobim, no Ceará. Trabalhou em terrenos argilosos, onde os poços eram abertos através de um mecanismo simples, mas eficiente. O equipamento não custava mais do que modestos R$1.500,00. Hoje, seria um pouco mais.
E o que se viu? Muita água jorrar e as plantações florescerem como num verdadeiro milagre da natureza.
Julian, este o nome do francês, mostrou que uma providência simples poderia salvar o nordeste da desgraça da escassez de água, com sua conseqüência trágica de miséria e de desespero.
O Prefeito de Quixeramobim acreditou no francês e este acreditou no seu trabalho, fazendo uma parceria que mereceu o respeito da nação.
Agora se tenta salvar o nordeste com um projeto onde desponta a megalomania
do brasileiro. É a chamada transposição do Rio São Francisco, com as implicações ambientais daí resultantes e a indefectível falta de recursos.
Os trabalhos, por certo, irão demandar longo tempo e, enquanto isto, os nordestinos lutam desesperadamente contra a seca e a fome.
Trata-se, com efeito, de uma solução complicada.

Fonte: José Roberto Cavalcante - Boletim N° 07 - 17/08/2011 - Rotary Club do Rio de Janeiro